Ele,
que trabalhava em uma obra em Botafogo, foi operado por cinco horas e não
apresenta sequelas
Imagem mostra vergalhão do crânio de um operário, que sobreviveu após cirurgia
Pablo Jacob / Agência O Globo
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RIO - Um operário da construção civil de 24 anos foi atingido nesta
quarta-feira por um vergalhão numa obra em Botafogo, Zona Sul do Rio, e
sobreviveu. O pedaço de ferro, de dois metros de comprimento, atravessou o
capacete do rapaz, perfurou seu cérebro e saiu pela região entre os olhos. Os
bombeiros cortaram uma parte do vergalhão no local do acidente e levaram o
ferido para o Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea.
A
equipe cirúrgica operou a vítima ainda na quarta-feira, durante cinco horas.
Segundo os médicos, o operário - cujo nome não foi divulgado - chegou ao
hospital falando e consciente. Três médicos participaram da cirurgia, que
reconstruiu o cérebro do rapaz, que, aparentemente, não apresenta sequelas.
Entre eles o neurocirurgião Ivan Sant'Ana Doria. Ele disse que não é comum um
paciente sobreviver sem sequelas a um acidente como aquele.
-
Minha esposa disse que o "Homem" deu outra chance a ele. Casos assim
não são comuns mesmo.
Médico
de dois hospitais públicos, o Miguel Couto e o Andaraí, Ivan disse que não foi
a primeira vez que um operário chegou ao Hospital Miguel Couto com um vergalhão
atravessado no crânio. Há três anos aconteceu um caso semelhante, mas Ivan não
participou da cirurgia. Na quarta-feira, no entanto, foi diferente.
Ivan
contou ao GLOBO que, ao chegar ao hospital, fez uma cirurgia numa mulher que
havia sido agredida. No fim, foi avisado que um paciente com um ferro na cabeça
havia acabado de chegar e estava sendo submetido a uma tomografia.
-
Fui para o local e entramos logo em cirurgia. A cena era impressionante. Você viu as
imagens da tomografia? O ferro atravessou uma parte importante do cérebro e
saiu entre os olhos. O paciente estava lúcido, conversando. Conseguiu dizer o
nome, que era casado, informou o endereço.
Ivan
disse que não ficou nervoso com o tamanho da responsabilidade:
-
Depois de 35 anos de neurocirurgia, você sabe dos riscos e se prepara. Não fica
nervoso. Mas tem certa apreensão. O ferro passou perto de estruturas nobres do
cérebro.
O
cirurgião passou cinco horas operando o trabalhador. Ele disse que o momento
mais delicado foi o da retirada do vergalhão:
-
Nós escovamos o couro cabeludo do paciente e o pedaço de ferro que estava na
entrada do ferimento para evitar que qualquer poeira entrasse e causasse uma
infecção no cérebro. Depois, fomos retirando lentamente. Retirava um pouco,
avaliava, retirava um pouco mais. Depois que o ferro saiu, lavamos o cérebro
com muito soro e cauterizamos as áreas onde havia sangramento. O perigo agora é
ele contrair uma infecção. O paciente está tomando muito antibiótico para
evitar isso.
A
vítima está internada no Centro de Tratamento Intensivo (CTI), mas acordada e
falando. De acordo com o diretor do hospital, Luiz Alexandre Essinger, o risco
agora é que o paciente contraia uma infecção:
—
Quando o vergalhão entrou no cérebro, levou também muita poeira. Para evitar
uma contaminação de secreções dos seios da face, o vergalhão foi puxado para
baixo durante a cirurgia.
Segundo
os médicos, a área afetada do cérebro é responsável pela parte das emoções. A
vítima poderia ficar desorientada ou ter perda de memória, o que não aconteceu.
Ele ainda deu mais sorte: se o vergalhão tivesse entrado três centímetros mais
para o lado, teria atingido a parte do cérebro responsável pela coordenação
motora. A vítima não estaria conseguindo mexer pernas e braços. Se tudo der
certo, o paciente terá alta em uma semana.
Em
2009, o mergulhador Emerson de Oliveira Abreu, de 36 anos, foi atingido por um
arpão que perfurou o lado esquerdo de seu crânio durante uma pesca submarina na
Baía de Guanabara, na altura da Ilha do Governador. Ele foi ferido pelo próprio
equipamento, que resvalou em uma pedra e retornou em sua direção. A arma, de 70 centímetros, não
chegou a atravessar o crânio de Abreu, que chegou consciente ao hospital.
À
época, os médicos disseram que por alguns milímetros não alcançou a artéria
carótida. Ele teve alta do hospital alguns dias depois, sem sequelas. Segundo
os médicos, 25
centímetros do arpão penetraram na região frontal
direita do cérebro de Emerson.