JOSÉ BENEDITO DA SILVA
EDITOR-ADJUNTO DE
COTIDIANO
A cobrança eletrônica de pedágio, que o governo de SP vai
implantar nas rodovias privatizadas, levará milhões de motoristas a pagar para
circular até nos entornos das cidades, onde as estradas são usadas como vias
urbanas.
Entre os
trechos de tráfego urbano que serão pedagiados estão, por exemplo, aqueles que
ligam a capital paulista ao aeroporto de Cumbica (rodovia Ayrton Senna), a São
Bernardo (Anchieta) e a Cotia (Raposo Tavares).
Hoje, eles
não têm praças de pedágio, mas o deslocamento gratuito vai acabar por conta da
instalação dos pórticos ao longo da via, que vão ler chips nos carros para
fazer a cobrança.
No teste
que está sendo feito na SP-75, entre Indaiatuba e Campinas, há um pórtico a
cada 8 km.
Com esse intervalo, as vias serão praticamente 100% pedagiadas.
A
implantação da cobrança, planejada para 2013 ou 2014, vai depender de um
cálculo político difícil para o governador Geraldo Alckmin (PSDB): se, por um
lado, o sistema é mais justo e permite reduzir a tarifa, por outro, vai cobrar
de muito mais gente.
Nem a
Artesp (agência de transportes do Estado) nem as concessionárias sabem quantos
usam as rodovias sem pagar. O único estudo feito -e sempre citado como
parâmetro- na Dutra, uma via federal, apontou que só 9% dos carros pagam
pedágio.
Se o
percentual for parecido nas vias estaduais, com o chip, deve multiplicar por
dez o número de carros tarifados -foram 790 milhões em 2011.
"O ponto crítico, não tenho dúvida, é quem não paga e passará a
pagar", afirma Karla Bertocco Trindade, diretora-geral da Artesp. Para
ela, porém, o Estado não pode dizer "você paga e você não". "A
questão é: usou, pagou."
Haverá
impacto em dois casos: em rodovias que são vias urbanas ou metropolitanas e em
ligações entre cidades onde hoje não há cabines.
Na primeira, estão os exemplos acima e outros, como o da rodovia Dom Pedro 1º,
que liga Campinas a três shoppings, condomínios, à Unicamp e à PUC Campinas.
Na segunda,
os trechos entre São Carlos e Araraquara (Washington Luís) e Limeira e
Piracicaba (Anhanguera).
Em todas as
rodovias, porém, haverá um "perde e ganha": alguns usuários pagarão
menos e outros, que não pagam, passarão a pagar.
Um exemplo
claro é a própria SP-75. Entre Indaiatuba e Campinas há uma praça, que cobra R$
10,10. Com os pórticos, o valor cai para R$ 4. Na via, porém, quem roda entre
Indaiatuba e Sorocaba não paga hoje, mas vai pagar.
ROTA DE
FUGA
Nos trechos
urbanos, um efeito colateral deve ser a criação de "rotas de fuga".
"Será um 'problemaço' porque o motorista tentará fazer sua rota por dentro
da cidade", diz Horácio Augusto Figueira, consultor em transportes.
Para ele,
que é favorável à cobrança por trecho "sob o ponto de vista da
justiça", o aumento das rotas de fuga pode ser impedido se o preço por km
rodado for baixo.
Ele cita o
Rodoanel, que custa R$ 1,50 no trecho oeste. "As pessoas estão fugindo do
Rodoanel? Não, cada dia tem mais movimento."
Usuários da
rodovia Dom Pedro 1º já criticam a mudança. A pesquisadora da Unicamp Ana Lúcia
Pinto mora em Campinas e percorre 13 quilômetros da
rodovia para trabalhar todo dia.
"Acho
o ponto a ponto justo, mas o uso em trecho urbano, na cidade, não acredito que
deva ser cobrado."
O analista
de sistemas André Wohlers usa a via duas vezes por semana, entre Campinas e
Mogi Mirim. "Não tem justificativa a cobrança atingir áreas urbanas",
afirmou.
O
pesquisador Antonio Augusto, também da Unicamp, se diz favorável. "O
pedágio é um mal necessário. Sou contra o preço abusivo, mas, se for
proporcional, acho correto".(Colaborou MARÍLIA ROCHA)
Editoria de arte/Folhapress